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LEITURAS CRÍTICAS DE ESPETÁCULOS DO FESTE_2023.Arruança: Seus Três Palhaços e uma Van(zela), por Alexandre Mate.

 LEITURAS CRÍTICAS DE ESPETÁCULOS DO FESTE_2023.
Arruança: Seus Três Palhaços e uma Van(zela), por Alexandre Mate.

As apresentações são gratuitas, em praças públicas e acontecem neste sábado e domingo.

Sábado, dia 18 de novembro de 2023, 38° à sombra. Pelas ameaças de tempestade e ventos incontroláveis, a defesa civil de Pindamonhangaba, antenada às orientações meteorológicas, sugere suspender atividades ao ar livre. No dia apontado, inserido na programação da 45ª edição do Festival Nacional de Teatro de Pindamonhangaba – Feste (2023), o grupo convidado a apresentar-se no surpreendentemente belo Parque do Povo, seria (e foi porque não veio a tempestade) o coletivo prudentino Grupo de Circo e Teatro Rosa dos Ventos, coletivo com 24 anos de idade.

Foto de portal R3

A obra selecionada para figurar no Feste foi Arruança. Em tese, e de acordo com as falas dos integrantes do coletivo (Fernando Ávila, Luís Valente e Tiago Munhoz), o espetáculo foi criado, também, como possibilidade de sobrevivência, sobretudo emocional, no período de interdição das relações sócio-presenciais, decorrentes da pandêmia (trazido pela Covid-19). Durante 4 meses, e sempre a partir de um roteiro aberto, o coletivo criador, a partir de uma cena-situação cômica iniciou o processo de criação de Arruança. Espetáculo híbrido, a misturar diversos expedientes do circo e do teatro cômico, a obra é bastante recente, portanto, ainda em processo de descoberta e de criação. Evidentemente, uma das características fundantes do Rosa é o trânsito pelas formas populares de cultura, que significa partitura aberta permanentemente, e que tende a se completar principalmente pelas relações reais de troca com a comunidade de espectadores/ espectadoras.

Por isso é essencial explicitar que a obra, ainda em processo de criação estrutural, tem aquela verve comunicacional, maravilhosa, de um coletivo que sabe relacionar-se e cuja maestria (de sempre) já aparece no “esquenta”. Fazem parte do esquenta do coletivo a afinação dos equipamentos e a maquiagem. O procedimento se caracteriza quase em uma espécie de cortejo.

O coletivo que participa da montagem de Arruança, compreende os atores já citados, Fernando Ávila – palhaço Dez Pras Sete, Luís Valente – o palhaço Seu Lavanco e Tiago Munhoz, o palhaço Cuspitiu de Pinoti e (a grande novidade) uma Van, cujo nome não foi possível descobrir. A van apresenta-se com inúmeras caracterizações coloridas. O trio, portanto, virou um quarteto. A van, que servia como meio de transporte, a partir da montagem em destaque, sustenta o espaço musical (em palco sobre seu teto), apresenta informações e “responde”, inclusive com trechos de músicas diversas, a diversas perguntas apresentadas pelo conjunto criador. O trio confessou na roda de conversa que ainda busca outras funções para a van ser uma Van.

O coletivo cômico, sagaz e ferino, desenvolve suas criações a partir de uma retórica, quase repentista, cujo jogo cênico se estabelece e se ampara em sua habilidade excepcional de acessar e criar palavras, frases e expressões ambíguas. Além disso, os criadores do Rosa manifestam as suas potências, sempre a partir de distintos roteiros de ações, por intermédio dos quais apresentam-se como excelentes contadores de causos, exímios piadistas, divertidíssimos palhaços, tocadores de instrumentos e com habilidades em diversas técnicas de circo (equilibrismo/ sustentação, malabares etc). Artistas potentes com domínio de seu ofício.
Arruança, nasceu em período de proibições de relações presenciais e em proximidade. Por intermédio de projeto contemplado com a Lei Aldir Blanc, o quarteto circulava por determinados espaços públicos, apresentava-se sem que as pessoas ficassem em roda (só podiam assistir das janelas e portões de suas casas). Talvez essa seja a “inspiração” para o coletivo se deslocar duas vezes para espaços próximos e voltar ao seu local de origem. Desse modo, o deslocamento ainda parece não fazer um sentido.

Foto Portal R3

Por último, quando o quarteto criador voltou ao ponto inicial da apresentação, percebendo-me absolutamente suado e extenuado, acessei uma outra forma de olhar. Ao final, aqueles trabalhadores das formas populares representacionais de rua estavam, absolutamente tomados pelo suor. Pois é, teatro de/na rua é absolutamente mágico e emocionante. Manifestação para gente muito-muito forte! Lembrei-me do poema de Drummond (A Noite Dissolve os Homens), em cujo trecho final se tem: “Havemos de amanhecer. O mundo/ se tinge com as tintas da antemanhã/ e o sangue que escorre é doce, de tão necessário/ para colorir tuas pálidas faces, aurora”. A partir desses versos, senti necessidade de uma paráfrase (bastante tosca, na verdade), mas em parte da citação, era possível constatar “Havemos de amanhecer. O mundo/ se tinge com as tintas da antemanhã/ e o suor que escorreu – salgado em sua natureza – inundou-nos de tão doce e necessário/ para colorir nossas existências tão cansadas e, ainda, repletas de tantos traumas”.

Foto Portal R3

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